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Boa leitura!



MITOLOGIA DOS ORIXÁS
Reginaldo Prandi
Companhia Das Letras


'Mitologia dos Orixás' é a mais completa coleção de mitos da religião dos orixás já reunida em todo o mundo. São 301 relatos mitológicos, histórias que contam, por meio de imagens concretas e não de idéias abstratas, como são, o que fazem, o que querem e o que prometem os deuses desse riquíssimo panteão africano que sobreviveu e prosperou em países da América - em particular no Brasil e em cuba -, e que nos últimos anos tem sido exportado para a Europa. Ao narrar episódios em que se envolveram desuses como Exu, Ogum, Iemanjá e Iansã, Mitologia dos orixás chama a nossa atenção para sentidos vitais profundos e nos aproxima do vasto patrimônio cultural dos negros iorubás ou nagôs. O livro é ricamente ilustrado, com fotos coloridas de todos os orixás que se manifestam em cerimônias do candomblé no Brasil e ilustrações do artista Pedro Rafael.



MITOS YORUBÁS - O outro lado do conhecimento
José Beniste
Bertrand Brasil



Esta é mais uma obra de um autor consagrado pela qualidade de seus trabalhos sobre a Cultura Religiosa Afro-Brasileira. Os mitos justificam os ritos, e isto é revelado em histórias selecionadas que explicam os porquês do Candomblé; Erinlé veste couro; Omolu e Exu têm seus assentamentos do lado de fora das casas dos Orixás; o carneiro é a comida votiva de Xangô, mas é repelido por Yansam. Os mitos também explicam como a Terra foi criada e por que Oxalá recebeu este título; esclarecem sobre a importância e o perigo de Iya mi Oxoronga e o culto Egungun; decifram a história completa de Xangô e a sua disputa com Ogum pelo amor de Yansam; explicam a obrigação de Exu em fiscalizar os axés, provocar Orunmilá e criar conflitos entre Yemanjá, Oxum e Yansam.



Igbadu - A cabaça da existência
Adilson de Oxalá
Pallas



Olorun, Senhor Supremo do Universo, resolveu acabar com o ócio reinante no Orun e decidiu criar um mundo habitado por seres em tudo semelhante a Ele. Para o empreendimento, convocou todos os orixás, seus filhos, e sob o comando de Obatalá, seu primogênito, ordenou que partissem para criar Ayé. Para saber como ocorreu a criação do Muno, do Homem e o surgimento do culto aos Orixás e outros mistérios, leia esse livro que, pela primeira vez, reúne a mitologia de nagô em sua amplitude e diversidade.



Dicionário Yorubá Português
José Beniste
Bertrand Brasil














O Yorubá é uma língua viva, falada na Nigéria, no Sul da República do Benin, nas repúblicas do Togo e de Gana por cerca de 30 milhões de pessoas. No Brasil, foi mantido de forma expressiva, por meio da liturgia dos candomblés procedentes daquelas regiões, tornando-se um depositário fiel dessas tradições. Este dicionário contém mais de 18.000 verbetes; mais de 15.000 exemplos de frases traduzidas; explicações das palavras fundamentais; categoria gramatical das palavras para orientação na formação de frases; regras gramaticais; introdução básica ao aprendizado e à pronúncia do idioma yorubá; orientações básicas sobre a estrutura do idioma.

A oficina 2017 - Obá

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Quem faz o projeto

Solange Machado

Sou Solange Gonçalves Machado, uma mulher, negra, da periferia, Yálorixa (mãe de santo) do “Ilê Axé Ara Iná Afinná”, orgulhosa filha de uma doméstica e de um vigia noturno.

Tive meu primeiro contato com as religiões de matriz africana aos 13 anos (hoje tenho 39) pelas mãos de uma tia que achava meus problemas de saúde muito estranhos e me levou a um terreiro (denominação típica do local acontecem os rituais religiosos de matriz africana) de umbanda para ter certeza que meus males eram físicos e não espirituais.

A primeira vez que assisti uma gira (reunião com adeptos e simpatizantes dos cultos realizados para evocar os ancestrais que serão cultuados naquele dia) está gravada em minha memória até os dias de hoje. Era uma quarta-feira e os caboclos estavam sendo chamados, tudo era colorido e maravilhoso. Os cocares, as contas, as velas coloridas brilhando sobre o congá (altar dos terreiros de umbanda onde ficam as imagens e oferendas para nossos ancestrais).

Aquela dança, a música, o som do tambor e a energia do lugar falavam com meu corpo e ele respondia mesmo sem eu entender nada do que estava acontecendo.

Desta época até 1994 visitei vários terreiros de umbanda e assisti muitas giras. Conheci a dança dos exus, pombo-giras, povo cigano, boiadeiros, marinheiros e outras entidades maravilhosas, mas ainda me sentia como se faltasse algo.

No final daquele ano conheci o candomblé. Fui convidada para uma “saída de santo” (festa feita para apresentar o novo iniciado e seu orixá à sociedade do candomblé) na casa da Dona Maria de Oxóssi (segundo a tradição dos nossos ancestrais, Oxóssi é a divindade responsável pela agricultura e caça), no bairro Cocaia em Guarulhos.

Conhecer Dona Maria foi intrigante. Aquela mulher de pele negra, fisionomia indígena e presença masculina me confundia, pois ainda não possuía entendimento suficiente para reconhecer o quanto nossa  ancestralidade está presente em nós. Ela vivia em um barraco de madeira que hora era sua casa hora era seu terreiro.

Esse encontro foi decisivo para o que seria minha vida dalí em diante. Algo em mim “acordou”, um calor que nunca havia sentido tomou conta de mim e foi ficando mais forte durante toda a festa.

Quando Dona Maria entrou na sala incorporada com seu orixá Oxóssi eu fiquei impressionada. Seus gestos, sua dança, a batida do tambor e toda aquela força me contavam sua história. Podia ler claramente suas lutas, suas caçadas e vitórias naquele conjunto de informações - mesmo eu não conhecendo nada de candomblé ou mitologia dos orixás.

Em 1998 fui iniciada nesta mesma casa e em 2000 comecei e entender que cabia mais do que prática religiosa alí - cabia também oralidade, educação, experiência de vida e valorização cultural.

Em 2002 deixei a casa de Dona Maria de Oxóssi e passei a zelar meus orixás no Abassá de Xangô sob a orientação de Mãe Dida de Xangô e Pai Alexandre de Odé, na Vila Barros, também em Guarulhos. O Abassá de Xangô é uma casa com muitos filhos e reconhecida em vários estados por seu tempo de existência, raízes (termo usado para indicar origem ou continuidade) em casas tradicionais como o renomado “Sitio de Pai Adão” e sua orientação assertiva no culto aos orixás.

A convivência no Abassá de Xangô me mostrou as diversas possibilidades de compartilharmos tudo que aprendemos no candomblé com as outras pessoas. A grande diversidade de saberes que lá convivem contribuíram muito para meu entendimento sobre a diferença entre os rituais religiosos e a cultura afro. Embora estejam ligados cada um pode habitar um espaço específico sem interferir no outro sempre que necessário.

Nesse tempo a paixão pela dança dos orixás já havia me tomado. Nunca tive curiosidade de estudar academicamente sobre o assunto mas cada vez que um orixá estava dançando me sentia em transe. Cada movimento que os Aboros (divindades masculinas) ou as Yabás (divindades femininas) faziam me deixavam mais encantada e me mostravam mais sobre a história deles e o quanto algumas dessas historias se pareciam com a minha.

Foi lá que conheci Adriana Aragão, uma “irmã de santo” (um dos tratamentos entre mulheres que pertencem a um mesmo terreiro) que me explicou e mostrou na prática algumas possibilidades de uso de nosso conhecimento na educação, cultura e arte.

Adriana me apresentou um grupo do qual ela fazia parte chamado Oriashé. Quando vi aquelas mulheres tocando, cantando e dançando a mitologia dos orixás para todos que quisessem ouvir e na rua, fiquei abismada. Nunca pensei que pudéssemos esparramar para os “quatro cantos” do mundo nossa cultura daquela forma.

Foi inspirador ver um cortejo enorme de pessoas dançando e acompanhando o ritmo dos instrumentos tocados nos terreiros sem medo, sem preconceito, sem rótulos ou perseguição. Uma emoção incrível!

Em 2007 fui convidada para dar apoio à coordenação do corpo de dança do bloco afro Ilú Obá De Min, um grupo formado por pessoas que haviam deixado o grupo Oriashé e que tinham como líderes Adriana Aragão, Elisabeth Belisário e Girlei Miranda. Essa vivência tornou mais claro para mim o quanto era importante mostrar ao mundo nossa cultura. Era como se, por um momento, a tradição africana pudessem voltar a ocupar seu lugar junto ao povo. Como se as religiões de matriz africana e toda cultura nela guardada tivessem seus direitos realmente respeitados.

Podíamos ver no rosto da multidão, que assistia os ensaios e acompanhavam o bloco no carnaval, a expressão de felicidade por ver o reconhecimento e respeito à sua cultura ali representados.

Dentro deste bloco havia uma diversidade fantástica de pessoas, acadêmicos, curiosos, adeptos das religiões de matriz africana, pesquisadores, etc. Nas conversas com as pessoas entendi como aparentemente somos vistos no mundo acadêmico – até então meu conhecimento referente aos orixás se limitava às lições aprendidas com o dia a dia do terreiro – e qual o entendimento destas pessoas sobre nossa cultura. Fiquei muito surpresa ao ver que elas valorizavam e reconheciam a necessidade de difusão de nossa cultura fora dos terreiros, que liam muitos livros, defendiam teses e elaboram projetos sobre essa temática.

Inspirada por todo esse conhecimento adquirido desde então, desenvolvi vários trabalhos como palestras, oficinas, apresentações, debates, formação voltada para desconstrução do preconceito, valorização da cultura afro brasileira, reconhecimento da importância histórico cultural das religiões de matriz africana, empoderamento do povo negro, valorização e respeito a mulher, etc.

A maior parte destas atividades ainda ocorrem, em espaços públicos como CEUs, centros culturais, teatros, parques e até mesmo nas ruas.

Ao longo da construção do meu conhecimento posso citar como mestras Maria Vitoria de Lima Vieria (Maria do Oxóssi), Valdeilda Dias (mãe Dida de Xango), Roseneide Ribeiro (mãe pequena do Abassá de Xangô), Adriana Aragão (percursionista e irmã de santo), Elizabeth Belisário (percursionista e presidente do Bloco Afro Ilú Obá De Min), Girlei Miranda (percussionista, membro do Bloco Afro Ilú Obá De Min e de várias comunidades do Samba Carioca), Giselda Pereira (minha filha de santo, contadora de historias, professora, arte educadora, gestora de projetos de cultura, bailarina, etc) mulheres que me servem de referência e inspiração para continuar desconstruindo o preconceito, empoderando mulheres e criando novos caminhos que levem nossa cultura a todos que queiram conhecer e sentir a força de nossa ancestralidade.

Como mestres tenho Alexandre Dias (pai Alexandre de Odé), Cecílio Souza (pai pequeno do Abassá de Xangô), Emerson Thomazini Machado (Axogum do Abassa de Xango e meu esposo à 21 anos). Homens que com muita paciência e humildade dividem comigo o saber que recebem todos os dias.


Cito ainda todos os membros das casas de umbanda e candomblé que conheço e convivo além da minha, pois essa convivência mantém viva nossa oralidade, e a oralidade mantém viva e forte nossa cultura ancestral por todos estes anos.

A oficina 2017 - Yemanjá

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